É como se tivessem apertado o "pause". O dia estava claro. A rua sem movimentos. A brisa não balançava os galhos das árvores. Nenhum pássaro voando. Não se ouvia o mínimo de som ou barulho. As poucas pessoas que passavam pela rua, pareciam não se importar. Pareciam anestesiadas...Assim como ela estava se sentindo.
Foi caminhando pela rua, devagar, bem devagar. Não sentia calor. Observava. As casas continuavam as mesmas, nos mesmos lugares, mas tudo estava estranho. Ouviu a mãe chamar, de longe: - Vem almoçar! -, mas não sentia fome. Parecia, na verdade, que nunca havia se alimentado. E perguntou a si mesma: "quem é essa mulher?"
Andando na rua, buscava na memória algumas lembranças; passeios, conversas com os amigos, shows, filmes prediletos, músicas que fazem chorar. Mas não conseguiu encontrar nada, nada. Não havia rosto de ninguém, nome de ninguém, filme ou música alguns.
Parou, estendeu as mãos: "o que são isso?" As roupas que vestia não faziam sentido. E o ar? Não sentia seu corpo, não sentia seu coração. Ele já não batia mais; por alguém nem por ninguém. Nada mais fazia sentido.
Caminhou em direção à um canteiro de flores que havia no lado oposto da rua. Virou-se de costas para o canteiro. Olhou para cima. Seu rosto expressava tudo o que um retrato 3x4 poderia expressar. Levemente, seu corpo foi caindo por entre as flores. Os olhos continuavam abertos; por nada, pra nada, sem sentido.