Olhos fechados, vai subindo, cada vez mais alto. O vento no rosto, a mão direita estendida com os dedos abertos. Abre os olhos e vê tudo, lá longe... Familiares, amigos e outros não amigos, com expressões de espanto no rosto e dizendo: - Desce! Desce senão você cai, menina!
Mas ela quase não as vê...Tampouco as ouve. No meio dessas pessoas, se vê com um suave sorriso no rosto e um olhar dizendo: - Vá...Vá...! E vai, cada vez mais leve, pra perto do azul.

               Hoje é o primeiro dia
             Do resto da sua vida
             E da minha também
             E então
             Sente no meu colo

HOJE É O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA SUA VIDA!

Passar doze anos estudando para passar de ano!
Daí quando não tem mais ano pra passar, vem o vestibular!
Mais uns dois anos de cursinho, aí sim, passar no vestibular!
Uns cinco anos na faculdade.
Dois de pós-graduação.
Durante, preparatório para concurso.
Dois anos de mestrado.
Dois anos de doutorado.
Dois anos de pós-doutorado.
Título de PHD e concursada!
Tamanha é a emoção que sofre um infarte.
Tsc tsc tsc...
Que pena.
Aos cinquenta anos, ela teria um futuro brilhante, não?!

Triste?
Seria exagero?
Bah!
:)

Ônibus lotado.
Sala de aula cheia:
de calor, assunto chato e pessoas...
desinteressantes.
Ônibus lotado.
Almoço.
Ônibus lotado.
Sala de aula cheia de...
bem, você sabe.
Ônibus lotado. ( =/ )
Sala de aula...com um piano!
E mais uma vez vem o ônibus,
lo-ta-do!
Noite.
Cansada, vontade louca de tirar a roupa,
pegar um pedaço de papel,
lápis e borracha.
Alívio imediato.

Andava pela calçada sob o sol quente.
Carros vão, carros vem.
Com a testa franzida e olhos meio cerrados,
levanto um pouco a cabeça.
Um carro do SAMU e uma aglomeração
num ponto de ônibus.
Aproximando, vejo um corpo tremendo.
Olho pro lado assustada.
Saem de dentro de um carro escreito
"reportagem" um homem com uma camera
e outro com um microfone.
A mulher continuava estendida.
A equipe médica ajudando-a.
O cinegrafista filmando e o reporter...
Que jeito legal de ganhar dinheiro!
As testas se franziram mais, de raiva.
Raiva da inutilidade deles;
mais ainda de mim, que atravessei
a rua e fui embora, de ônibus.

...
É lindo!
Há aqui dentro uma luz que
purifica minh'alma.
É aquela coisa;
dar sem receber, perdoar e ser perdoado;
amar sem ser amado...
Mas ele, coração, quase não suporta mais.
A dor era boa.
Agora, a cada dia que passa, ela aumenta...
e o fere.
Fraco cada vez mais, ele já não quer
mais ser tão puro.
O "de graça" já não tem...graça!
Deseja então amar e
sentir-se amado.

Violinos não envelhecem,
assim como minh'alma.
Nobres.
Profundamente melancólicos.
Extremamente felizes.
Sensíveis.
Meu coração...
Quase indiscrítivel.
Como pode tocar assim, tão dentro de mim?
E precisa saber?
Transcendecerá sempre...
Cada vez mais jovens, melancólicos e felizes.
E aquela pontinha de dor,
bela, prazerosa e poética, será
ainda mais prazerosa
quando o arco pegar e o violino tocar.
Ir e não mais voltar.