quarta-feira, 15 de setembro de 2010

" Quando ele nasceu foi no sufoco... / Tinha uma vaca, um burro e um louco / Que recebeu seu sete...
Quando ele nasceu foi de teimoso / Com a manha e a baba do tinhoso / Chovia canivete...
Quando ele nasceu, nasceu de birra... / Barro ao invés de incenso e mirra / Cordão cortado com gilete...
Quando ele nasceu sacaram o berro / Meteram faca, ergueram ferro... / E Exu falou: ninguém se mete...
Quando ele nasceu tomaram cana / Um partideiro puxou samba... / Aí Oxum falou: esse aí promete..."

Genesis (o parto), de João Bosco

sábado, 11 de setembro de 2010

3x4

É como se tivessem apertado o "pause". O dia estava claro. A rua sem movimentos. A brisa não balançava os galhos das árvores. Nenhum pássaro voando. Não se ouvia o mínimo de som ou barulho. As poucas pessoas que passavam pela rua, pareciam não se importar. Pareciam anestesiadas...Assim como ela estava se sentindo.
Foi caminhando pela rua, devagar, bem devagar. Não sentia calor. Observava. As casas continuavam as mesmas, nos mesmos lugares, mas tudo estava estranho. Ouviu a mãe chamar, de longe: - Vem almoçar! -, mas não sentia fome. Parecia, na verdade, que nunca havia se alimentado. E perguntou a si mesma: "quem é essa mulher?"

Andando na rua, buscava na memória algumas lembranças; passeios, conversas com os amigos, shows, filmes prediletos, músicas que fazem chorar. Mas não conseguiu encontrar nada, nada. Não havia rosto de ninguém, nome de ninguém, filme ou música alguns.

Parou, estendeu as mãos: "o que são isso?" As roupas que vestia não faziam sentido. E o ar? Não sentia seu corpo, não sentia seu coração. Ele já não batia mais; por alguém nem por ninguém. Nada mais fazia sentido.

Caminhou em direção à um canteiro de flores que havia no lado oposto da rua. Virou-se de costas para o canteiro. Olhou para cima. Seu rosto expressava tudo o que um retrato 3x4 poderia expressar. Levemente, seu corpo foi caindo por entre as flores. Os olhos continuavam abertos; por nada, pra nada, sem sentido.

pobres rimas

A criança dormiu,
a mulher sorriu,
a flor se abriu,
o pássaro partiu.

O cachorro comeu,
o padre abençoou,
à noite choveu,
o encanto acabou.

chuva

Sentada na cama, as pernas cruzadas abraçadas pelos braços,
o corpo se apoiando na parede e o olhar além da janela,
de longe sentindo o cheiro, ansioso por ela...
Assim como meu espírito,
também é meu amor,
infinito

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Essa noite, antes de dormir,
esquecerei inúmeras coisas
para que eu possa enfim sorrir;
Quero esquecer das noivas,
das usinas, businas e esquinas;
Quero esquecer dos pedintes nas ruas,
dos tristes olhares das meninas,
das mentiras e das pessoas cruas;
Quero esquecer-me de tudo,
para que possa dormir;
Esquecer do ator da revista,
pois quando a noite acabar
esse meu coração mudo,
renascerá artista.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Como a rocha que se deixa ir desfragmentando lentamente, tamanha a força das ondas do mar;
Assim vai meu amor, sem saber onde vai dar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A luz invadindo o quarto pelas frestas da janela.
Já é dia.
Já é dia?
Uhm...
Da janela, o céu está azul.
O céu continua azul...
Os mesmos prédios.
Carros, quantos carros, indo e vindo.

A brisa balança sutilmente os galhos.
O sol se despede do dia.
Logo anoitece.
Logo acontece, tudo de novo.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Rastejando.
Não vou olhar pra trás, não vou...
Na bagagem, amores, temores, horrores.
Decepção.
Medo.